Mórbidas Saudações a todos vós, leitores virtuais.
Pelas cidades, há rumores de situações e atuações que são vistas como levianas, absurdas, desprezíveis ou aterrorizantes. Muitos se revoltam, sacodem as cinzas do que é para ser sacudido, procuram os culpados e se isentam de pensar nas mais verdadeiras soluções. Este é o nosso mundo, um intenso tiroteio de não-soluções, não-busca de soluções, um planeta desorganizado onde cada um violentamente tenta se impor, encontrar solidamente uma razão para um fracasso, um crime ou uma grande tragédia natural.
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
O País das Maravilhas está em outro Plano, o da Imaginação; o Paraíso, igualmente, mas no Plano onde existe a Divina Realização; os super-heróis e as super-heroínas estão nos desenhos animados e nas histórias em quadrinhos; Bruce Willis, Arnold Schwarznegger e Sylvester Stallone, protetores dos mais fracos e oprimidos, na vida real, apenas nos mais delirantes sonhos ideais; pensar apenas que tudo é belo, que a Humanidade possui uma saída válida para todos os seus problemáticos enredos, significa ser um tipo de cego alienado estupidamente viável.
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Querem um toque na vida real? Muito bem, eis a vida real, filhos da Humanidade: um homem atormentado entra em uma escola pública sozinho, vestindo trajes militares, armado; é reconhecido como ex-aluno por uma professora; diz a alguns professores que dará uma palestra, pois, naquele mesmo dia, a escola estaria a completar quarenta anos de existência; vai até uma sala, anunciando essa intenção; pede aos alunos para se erguerem e fecharem os olhos; e começa a atirar, a atirar, a atirar, a atirar, a atirar, a atirar, a atirar, a atirar, a atirar, atirar, a atirar, atirar, a atirar...
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Doze crianças assassinadas, dez crianças hospitalizadas (sendo duas em estado grave) e o assassino, após ser contido por um policial, cometeu suicídio assim como demais outros assassinos do mesmo tipo cometeram no passado e cometerão no futuro. Na semana passada mesmo, após o massacre no Rio de Janeiro, um homem entrou em um shopping na Holanda, matou seis pessoas a tiros e depois se matou, mais um caso de um círculo de sangue interminável transformado pela mídia em um grande espetáculo.
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
O ESPETÁCULO DA MÍDIA TELEVISIVA!!! Oh, quão grande ESPETÁCULO!!! Rede Globo, Rede Record, Rede TV, Rede Bandeirantes, SBT, CNT e TV Cultura, apenas para falar das emissoras abertas, disputam a audiência apresentando O GRANDE MASSACRE DA ESCOLA MUNICIPAL TASSO DA SILVEIRA!!! Parece que John Woo foi chamado para dirigir o cinegrafista anônimo que, após o acontecimento, entrou na escola e filmou o assassino caído sem vida na escadaria do segundo andar e um garoto agonizante no chão, PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!! A qualquer momento, sim, a qualquer momento, a impressão que as emissoras deram, na transmissão ao vivo, era de que um grande filme estava sendo filmado, PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!! Foi tudo calculado pela raça de abutres da mídia televisiva, assim como no dia posterior pela outra raça de abutres que constitui a mídia do jornalismo impresso, tudo PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!! O choro de crianças da escola feridas ou que escaparam dos tiros, pais, mães, parentes, vizinhos e transeuntes, tudo perfeitamente posicionada PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!! Houve até trilha sonora, sim, TRILHA SONORA PARA O MASSACRE DE CRIANÇAS HOUVE NAS TRANSMISSÕES TELEVISIVAS, provando o quanto de imbecis insensíveis preocupados com a audiência são os que estão no jornalismo televisivo e em programas de qualidade duvidosa como os da tal da Sonia Abrão e do tal do Datena, trilha sonora, uma trilha sonora PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!! Depoimentos dos sobreviventes nos dias posteriores pelas emissoras de televisão e de rádio e nos jornais impressos: TUDO PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!! As crianças, as assassinadas e as feridas e as traumatizadas foram mostradas como atores de um filme hollywoodiano, TUDO PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!! O assassino foi enaltecido, mesmo de forma velada, como uma figura pop à maneira de Charles Mason, TUDO PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!! O desespero que se gerou nas ruas, em demais escolas do Rio e do Brasil, nas autoridades e nas pessoas comuns, transformado na mesma claustrofobia vista em “Batman, O Cavaleiro Das Trevas”, de Christopher Nolan, TUDO PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!!
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Maluco, demente, doente, animal psicopata, psicótico, perturbado: as classificações do atirador dadas por pessoas de diversos níveis de intelectualidade. Psicologia barata, palavras atiradas ao vento, intelectualismo de botequim: o que se viu e ouviu nos debates acerca do massacre. Não é pela desgraçada via psicológica e pela desgraçada via psicanalítica que o que ocorreu será compreendido; não é pela desgraçada via popular das classificações do povo, sempre cercada de erros e preconceitos vários, que o que ocorreu será compreendido; não é pela desgraçada via condenatória de todos os sobreviventes que o que ocorreu será compreendido; não é pela desgraçada via espiritualista que o que ocorreu será compreendido; por qual via, então, haverá a mais correta e verdadeira compreensão do que ocorreu? Quando pararmos de nos preocupar com as futilidades que enchem os nossos cus; quando pusermos a razão para funcionar e não apenas o que se encontra entre as nossas pernas; quando dermos tiros em nossas vaidades, ambições, egoísmos, friezas, descontentamentos, individualismos, soberbas e demais miseráveis humanas paixões assassinantes da racionalidade; quando sentarmos o rabo em uma cadeira e pararmos bem para meditar acerca do humano abismo contemporâneo no qual nos encontramos; quando esquecermos um pouco o caralho fodido do consumo desenfreado, a busca por condições melhores de vida de modo a atropelar tudo e todos que estão à nossa frente; quando mutilarmos os membros que nos posicionam como as feras destrutivas uns dos outros e de tudo que nos cerca, invariavelmente; quando pararmos de tentar buscar a solução divina (O Verdadeiro Deus não é a nossa babá, Ele quer que encontremos as soluções terrenas para os terrenos problemas que nós mesmos geramos) ou a solução ateísta (o engodo da parte dos que não conseguem encontrar solução nenhuma nem para eles mesmos); a solução cristã (Jesus de Nazaré disse: “O que tem nascido da carne é carne, e o que tem nascido do espírito é espírito”; quer dizer: é da carne que provém toda humana tragédia e não do espírito que, em si mesmo, antes de qualquer propensão ao mal, é puro) ou a solução satânica (Satan, O Rebelde, O Acusador, O Adversário: a arma dos loucos, dos desencontrados e dos desesperados, Entidade que anseia apenas pela aniquilação dos que seguem-No cegamente, seja pelo caminho aberto por Aleyster Crowley ou pelo de Anton Szandor LaVey ou pelo de Conrad Rodbury); a solução religiosa (ajoelhar e orar, apenas, não cria maiores transformações no mundo, é necessário a ação direta e compreensiva do mundo em si mesmo, sem erros extensos e intensos) ou a solução agnóstica (a falta de Religião é sempre a desculpa de muitos para a não-tomada de qualquer posição diante da humana existencialidade, dos pequenos aos grandes humanos atrasos); a solução dos ignorantes (os que acham que tudo no mundo se resolverá através da violência e da repressão, no cano de um revólver ou nos punhos cerrados) ou a solução intelectualista (os catedráticos, em grande maioria, são apenas redatores de um livro que não chega a ser lido pela população comum, o povo das ruas que desconhece ou ignora tanto a Antropologia Cultural quanto a Dialática); a solução ativista (o ativismo político é meramente um amontoado de interesses pessoais de valorização dos mesmos discursos arcaicos socialistas, comunistas ou autoritários dos séculos dezenove e vinte, uma atrofia histórica que teima em viva continuar a vigorar) ou a solução procrastinadora (nada fazer, deixar tudo ocorrer, não se manifestar em relação a nada: a atitude anti-humana mais desprezível de todas): quando tudo isso for considerado, quando houver a mais revolucionária ação e reação dentro do coração pulsante da Humanidade, quando estivermos, irmãos meus da Humanidade, diante de nossas faces limpas das deformações que nós mesmos forjamos, então, poderemos encontrar a Verdadeira Solução, Esta que é a mais salvadora religião ainda não-fundada que continua desconhecida e distante de cada um de nós, nós que aqui somos humanamente fracos nesta contemporaneidade geradora de copiadores do mesmo do mesmo no mesmo do ontem e não de criadores e recriadores e, até mesmo, CREADORES, de um grande dia no humano amanhã!!!
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
O que você faz?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Acha que está tudo bem? Afirma que está tudo bem?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Vai dançar? Vai fumar? Vai beber? Vai foder? Vai orar?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Vai assistir um filme no cinema? Vai assistir o Gugu? Vai assistir o Faustão? Vai assistir a Ana Hickman? Vai assistir o Pânico? Vai assistir o CQC? Vai assistir Legionários? Vai assistir a Hebe? Vai assistir uma novela qualquer?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Vai dar uma cagada? Vai dar uma mijada? Vai dar uma cusparada? Vai vomitar toda a comida que você ingeriu que nem um porco ou uma porca na privada?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Fica o dia inteiro na Internet? Fica o dia inteiro em casa vendo televisão?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Protesta?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Grita?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Corre?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Agita bandeiras?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Exige verdadeiras mudanças no mundo?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Faz algo revelante?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Diz algo produtivo?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Pensa em fazer algo, o mínimo que seja?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Abre caminhos?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Fecha portas?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Fica mudo? Fica cego? Fica mudo?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Age, Reage, REVOLUCIONA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
O QUE VOCÊ FAZ, SER HUMANO???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO É O MUNDO, SER HUMANO???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO NÃO SE ACABA, SER HUMANO???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
VOCÊ É VOCÊ MESMO, SER HUMANO???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
VOCÊ SABE QUE VOCÊ É O MUNDO, SER HUMANO???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
VOCÊ SABE QUE O SEU MUNDO ESTÁ SE ACABANDO, SER HUMANO???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
VOCÊ SABE QUE É O SER HUMANO, SER HUMANO?
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
VOCÊ SABE O QUE É SER HUMANO, SER HUMANO???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E o que eu faço enquanto o mundo se acaba?
Eu escrevo em protesto. Eu escrevo em manifesto. Melhor do que me revoltar com palavras faladas jogadas ao vento. Melhor do que condenar um ato que apenas é um ato que muito define a humana contemporaneidade, a situação atual de cada um de nós, irmãos em Humanidade. Melhor do que chorar a toda hora, ficando sem agir de uma mais fecunda maneira. Melhor do que me negar a sentir a dor dos pais das crianças abatidas e das que sobreviveram ao massacre de 07 de abril de 2011 na Escola Municipal Tasso da Silveira, perpetrada não por um monstro oriundo dos Abismos Infernais, mas por um ser tão humano quanto eu a escrever estas palavras ou você que me lê. Melhor do que me alienar e fingir que nada aconteceu, indo para um shopping ou para a praia neste dia de domingo ensolarado. Eu escrevo com tudo o que sou. Eu escrevo com tudo o que tenho. Eu escrevo com tudo o que sinto. Faço algo, sim, mesmo que não seja lido e nem comentado, não procuro a glória mundana e, muito menos, as glórias de outro possível mundo muito melhor do que este no qual estamos sobrevivendo. Este é um inominável protesto e um manifesto. Eternizo estas palavras, que o Tempo faça-as serem duradouras, inspiradoras ou, pelo menos, incentivadoras de alguma atual ou futura mente.
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Saudações Mórbidas a todos vós, leitores virtuais.
Domingo, 10 de abril de 2011
“Se o mundo tivesse um fim, ele haveria de já ter sido alcançado. Se houvesse para ele um estado final não intencional, então este haveria de já ter sido, do mesmo modo, alcançado. Se ele fosse capaz, em geral, de um persistir, de um tornar-se petrificado, de um 'ser', então ele teria chegado, mais uma vez, há muito tempo, ao fim do devir, também ao fim do pensar, ao fim do 'espírito'. O fato do 'espírito' como um devir prova que o mundo não tem nenhum fim, nenhum estado e é incapaz de ser. - O antigo hábito, porém, em todo acontecimento pensar em fins e de, para o mundo, pensar em um Deus condutor e criador é tão poderoso que, ao pensador, custa esforço não pensar para si próprio a falta de finalidade do mundo, por sua vez, como uma intenção. Nessa inspiração – que, portanto, o mundo intencionalmente se esquiva de um fim e sabe até prevenir artificialmente o cair em um circuito – haverão de incorrer todos aqueles que gostariam de decretar para o mundo a capacidade de eterna novidade, isto é, gostariam de decretar tal coisa em relação a uma força final, determinada, imutavelmente da mesma grandeza, tal como é o 'mundo' – a capacidade maravilhosa da infinita reconfiguração de suas formas e situações. O mundo, ainda que não tenha mais nenhum Deus, deve ser capaz da força criadora divina, da força de transformação infinita; ele deve proibir-se arbitrariamente de voltar para uma de suas antigas formas; não deve ter tão só a intenção, mas também os meios de guardar-se de toda repetição; deve controlar, portanto, em cada momento, cada um de seus movimentos para evitar fins, estados finais, repetições – e todas as demais consequências de um tal modo imperdoável e louco de pensar e querer. Esse é sempre ainda o velho modo religioso de pensar e querer, uma espécie de nostalgia de acreditar que em qualquer parte o mundo é igual ao velho Deus, querido, infinito, criador ilimitado – que em alguma parte, todavia, o 'velho Deus ainda viva' – aquela nostalgia de Spinoza, que se exprime nas palavras 'deus sive natura' (ele sentiu mesmo 'natura sive deus' -). Qual é, pois, o princípio ou fé com o qual se formula, o mais determinadamente, a virada decisiva, a preponderância alcançada agora pelo espírito científico sobre o espírito religioso inventor de deuses? Não é ele: o mundo, como força, não pode ser pensado como ilimitado? Pois ele não pode ser pensado assim – proibimo-nos o conceito de uma força infinita como sendo inconciliável com o conceito 'força'. Portanto – falta ao mundo também a capacidade para a eterna novidade.”
Friedrich Wilhelm Nietzsche
Pelas cidades, há rumores de situações e atuações que são vistas como levianas, absurdas, desprezíveis ou aterrorizantes. Muitos se revoltam, sacodem as cinzas do que é para ser sacudido, procuram os culpados e se isentam de pensar nas mais verdadeiras soluções. Este é o nosso mundo, um intenso tiroteio de não-soluções, não-busca de soluções, um planeta desorganizado onde cada um violentamente tenta se impor, encontrar solidamente uma razão para um fracasso, um crime ou uma grande tragédia natural.
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
O País das Maravilhas está em outro Plano, o da Imaginação; o Paraíso, igualmente, mas no Plano onde existe a Divina Realização; os super-heróis e as super-heroínas estão nos desenhos animados e nas histórias em quadrinhos; Bruce Willis, Arnold Schwarznegger e Sylvester Stallone, protetores dos mais fracos e oprimidos, na vida real, apenas nos mais delirantes sonhos ideais; pensar apenas que tudo é belo, que a Humanidade possui uma saída válida para todos os seus problemáticos enredos, significa ser um tipo de cego alienado estupidamente viável.
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Querem um toque na vida real? Muito bem, eis a vida real, filhos da Humanidade: um homem atormentado entra em uma escola pública sozinho, vestindo trajes militares, armado; é reconhecido como ex-aluno por uma professora; diz a alguns professores que dará uma palestra, pois, naquele mesmo dia, a escola estaria a completar quarenta anos de existência; vai até uma sala, anunciando essa intenção; pede aos alunos para se erguerem e fecharem os olhos; e começa a atirar, a atirar, a atirar, a atirar, a atirar, a atirar, a atirar, a atirar, a atirar, atirar, a atirar, atirar, a atirar...
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Doze crianças assassinadas, dez crianças hospitalizadas (sendo duas em estado grave) e o assassino, após ser contido por um policial, cometeu suicídio assim como demais outros assassinos do mesmo tipo cometeram no passado e cometerão no futuro. Na semana passada mesmo, após o massacre no Rio de Janeiro, um homem entrou em um shopping na Holanda, matou seis pessoas a tiros e depois se matou, mais um caso de um círculo de sangue interminável transformado pela mídia em um grande espetáculo.
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
O ESPETÁCULO DA MÍDIA TELEVISIVA!!! Oh, quão grande ESPETÁCULO!!! Rede Globo, Rede Record, Rede TV, Rede Bandeirantes, SBT, CNT e TV Cultura, apenas para falar das emissoras abertas, disputam a audiência apresentando O GRANDE MASSACRE DA ESCOLA MUNICIPAL TASSO DA SILVEIRA!!! Parece que John Woo foi chamado para dirigir o cinegrafista anônimo que, após o acontecimento, entrou na escola e filmou o assassino caído sem vida na escadaria do segundo andar e um garoto agonizante no chão, PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!! A qualquer momento, sim, a qualquer momento, a impressão que as emissoras deram, na transmissão ao vivo, era de que um grande filme estava sendo filmado, PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!! Foi tudo calculado pela raça de abutres da mídia televisiva, assim como no dia posterior pela outra raça de abutres que constitui a mídia do jornalismo impresso, tudo PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!! O choro de crianças da escola feridas ou que escaparam dos tiros, pais, mães, parentes, vizinhos e transeuntes, tudo perfeitamente posicionada PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!! Houve até trilha sonora, sim, TRILHA SONORA PARA O MASSACRE DE CRIANÇAS HOUVE NAS TRANSMISSÕES TELEVISIVAS, provando o quanto de imbecis insensíveis preocupados com a audiência são os que estão no jornalismo televisivo e em programas de qualidade duvidosa como os da tal da Sonia Abrão e do tal do Datena, trilha sonora, uma trilha sonora PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!! Depoimentos dos sobreviventes nos dias posteriores pelas emissoras de televisão e de rádio e nos jornais impressos: TUDO PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!! As crianças, as assassinadas e as feridas e as traumatizadas foram mostradas como atores de um filme hollywoodiano, TUDO PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!! O assassino foi enaltecido, mesmo de forma velada, como uma figura pop à maneira de Charles Mason, TUDO PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!! O desespero que se gerou nas ruas, em demais escolas do Rio e do Brasil, nas autoridades e nas pessoas comuns, transformado na mesma claustrofobia vista em “Batman, O Cavaleiro Das Trevas”, de Christopher Nolan, TUDO PARA A GLÓRIA DO ESPETÁCULO!!!
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Maluco, demente, doente, animal psicopata, psicótico, perturbado: as classificações do atirador dadas por pessoas de diversos níveis de intelectualidade. Psicologia barata, palavras atiradas ao vento, intelectualismo de botequim: o que se viu e ouviu nos debates acerca do massacre. Não é pela desgraçada via psicológica e pela desgraçada via psicanalítica que o que ocorreu será compreendido; não é pela desgraçada via popular das classificações do povo, sempre cercada de erros e preconceitos vários, que o que ocorreu será compreendido; não é pela desgraçada via condenatória de todos os sobreviventes que o que ocorreu será compreendido; não é pela desgraçada via espiritualista que o que ocorreu será compreendido; por qual via, então, haverá a mais correta e verdadeira compreensão do que ocorreu? Quando pararmos de nos preocupar com as futilidades que enchem os nossos cus; quando pusermos a razão para funcionar e não apenas o que se encontra entre as nossas pernas; quando dermos tiros em nossas vaidades, ambições, egoísmos, friezas, descontentamentos, individualismos, soberbas e demais miseráveis humanas paixões assassinantes da racionalidade; quando sentarmos o rabo em uma cadeira e pararmos bem para meditar acerca do humano abismo contemporâneo no qual nos encontramos; quando esquecermos um pouco o caralho fodido do consumo desenfreado, a busca por condições melhores de vida de modo a atropelar tudo e todos que estão à nossa frente; quando mutilarmos os membros que nos posicionam como as feras destrutivas uns dos outros e de tudo que nos cerca, invariavelmente; quando pararmos de tentar buscar a solução divina (O Verdadeiro Deus não é a nossa babá, Ele quer que encontremos as soluções terrenas para os terrenos problemas que nós mesmos geramos) ou a solução ateísta (o engodo da parte dos que não conseguem encontrar solução nenhuma nem para eles mesmos); a solução cristã (Jesus de Nazaré disse: “O que tem nascido da carne é carne, e o que tem nascido do espírito é espírito”; quer dizer: é da carne que provém toda humana tragédia e não do espírito que, em si mesmo, antes de qualquer propensão ao mal, é puro) ou a solução satânica (Satan, O Rebelde, O Acusador, O Adversário: a arma dos loucos, dos desencontrados e dos desesperados, Entidade que anseia apenas pela aniquilação dos que seguem-No cegamente, seja pelo caminho aberto por Aleyster Crowley ou pelo de Anton Szandor LaVey ou pelo de Conrad Rodbury); a solução religiosa (ajoelhar e orar, apenas, não cria maiores transformações no mundo, é necessário a ação direta e compreensiva do mundo em si mesmo, sem erros extensos e intensos) ou a solução agnóstica (a falta de Religião é sempre a desculpa de muitos para a não-tomada de qualquer posição diante da humana existencialidade, dos pequenos aos grandes humanos atrasos); a solução dos ignorantes (os que acham que tudo no mundo se resolverá através da violência e da repressão, no cano de um revólver ou nos punhos cerrados) ou a solução intelectualista (os catedráticos, em grande maioria, são apenas redatores de um livro que não chega a ser lido pela população comum, o povo das ruas que desconhece ou ignora tanto a Antropologia Cultural quanto a Dialática); a solução ativista (o ativismo político é meramente um amontoado de interesses pessoais de valorização dos mesmos discursos arcaicos socialistas, comunistas ou autoritários dos séculos dezenove e vinte, uma atrofia histórica que teima em viva continuar a vigorar) ou a solução procrastinadora (nada fazer, deixar tudo ocorrer, não se manifestar em relação a nada: a atitude anti-humana mais desprezível de todas): quando tudo isso for considerado, quando houver a mais revolucionária ação e reação dentro do coração pulsante da Humanidade, quando estivermos, irmãos meus da Humanidade, diante de nossas faces limpas das deformações que nós mesmos forjamos, então, poderemos encontrar a Verdadeira Solução, Esta que é a mais salvadora religião ainda não-fundada que continua desconhecida e distante de cada um de nós, nós que aqui somos humanamente fracos nesta contemporaneidade geradora de copiadores do mesmo do mesmo no mesmo do ontem e não de criadores e recriadores e, até mesmo, CREADORES, de um grande dia no humano amanhã!!!
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
O que você faz?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Acha que está tudo bem? Afirma que está tudo bem?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Vai dançar? Vai fumar? Vai beber? Vai foder? Vai orar?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Vai assistir um filme no cinema? Vai assistir o Gugu? Vai assistir o Faustão? Vai assistir a Ana Hickman? Vai assistir o Pânico? Vai assistir o CQC? Vai assistir Legionários? Vai assistir a Hebe? Vai assistir uma novela qualquer?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Vai dar uma cagada? Vai dar uma mijada? Vai dar uma cusparada? Vai vomitar toda a comida que você ingeriu que nem um porco ou uma porca na privada?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Fica o dia inteiro na Internet? Fica o dia inteiro em casa vendo televisão?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Protesta?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Grita?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Corre?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Agita bandeiras?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Exige verdadeiras mudanças no mundo?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Faz algo revelante?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Diz algo produtivo?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Pensa em fazer algo, o mínimo que seja?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Abre caminhos?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Fecha portas?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Fica mudo? Fica cego? Fica mudo?
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Age, Reage, REVOLUCIONA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
O QUE VOCÊ FAZ, SER HUMANO???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO É O MUNDO, SER HUMANO???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO NÃO SE ACABA, SER HUMANO???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
VOCÊ É VOCÊ MESMO, SER HUMANO???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
VOCÊ SABE QUE VOCÊ É O MUNDO, SER HUMANO???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
VOCÊ SABE QUE O SEU MUNDO ESTÁ SE ACABANDO, SER HUMANO???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
VOCÊ SABE QUE É O SER HUMANO, SER HUMANO?
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
VOCÊ SABE O QUE É SER HUMANO, SER HUMANO???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E O QUE VOCÊ FAZ ENQUANTO O MUNDO SE ACABA???
E o que eu faço enquanto o mundo se acaba?
Eu escrevo em protesto. Eu escrevo em manifesto. Melhor do que me revoltar com palavras faladas jogadas ao vento. Melhor do que condenar um ato que apenas é um ato que muito define a humana contemporaneidade, a situação atual de cada um de nós, irmãos em Humanidade. Melhor do que chorar a toda hora, ficando sem agir de uma mais fecunda maneira. Melhor do que me negar a sentir a dor dos pais das crianças abatidas e das que sobreviveram ao massacre de 07 de abril de 2011 na Escola Municipal Tasso da Silveira, perpetrada não por um monstro oriundo dos Abismos Infernais, mas por um ser tão humano quanto eu a escrever estas palavras ou você que me lê. Melhor do que me alienar e fingir que nada aconteceu, indo para um shopping ou para a praia neste dia de domingo ensolarado. Eu escrevo com tudo o que sou. Eu escrevo com tudo o que tenho. Eu escrevo com tudo o que sinto. Faço algo, sim, mesmo que não seja lido e nem comentado, não procuro a glória mundana e, muito menos, as glórias de outro possível mundo muito melhor do que este no qual estamos sobrevivendo. Este é um inominável protesto e um manifesto. Eternizo estas palavras, que o Tempo faça-as serem duradouras, inspiradoras ou, pelo menos, incentivadoras de alguma atual ou futura mente.
E o que você faz enquanto o mundo se acaba?
Saudações Mórbidas a todos vós, leitores virtuais.
Domingo, 10 de abril de 2011
“Se o mundo tivesse um fim, ele haveria de já ter sido alcançado. Se houvesse para ele um estado final não intencional, então este haveria de já ter sido, do mesmo modo, alcançado. Se ele fosse capaz, em geral, de um persistir, de um tornar-se petrificado, de um 'ser', então ele teria chegado, mais uma vez, há muito tempo, ao fim do devir, também ao fim do pensar, ao fim do 'espírito'. O fato do 'espírito' como um devir prova que o mundo não tem nenhum fim, nenhum estado e é incapaz de ser. - O antigo hábito, porém, em todo acontecimento pensar em fins e de, para o mundo, pensar em um Deus condutor e criador é tão poderoso que, ao pensador, custa esforço não pensar para si próprio a falta de finalidade do mundo, por sua vez, como uma intenção. Nessa inspiração – que, portanto, o mundo intencionalmente se esquiva de um fim e sabe até prevenir artificialmente o cair em um circuito – haverão de incorrer todos aqueles que gostariam de decretar para o mundo a capacidade de eterna novidade, isto é, gostariam de decretar tal coisa em relação a uma força final, determinada, imutavelmente da mesma grandeza, tal como é o 'mundo' – a capacidade maravilhosa da infinita reconfiguração de suas formas e situações. O mundo, ainda que não tenha mais nenhum Deus, deve ser capaz da força criadora divina, da força de transformação infinita; ele deve proibir-se arbitrariamente de voltar para uma de suas antigas formas; não deve ter tão só a intenção, mas também os meios de guardar-se de toda repetição; deve controlar, portanto, em cada momento, cada um de seus movimentos para evitar fins, estados finais, repetições – e todas as demais consequências de um tal modo imperdoável e louco de pensar e querer. Esse é sempre ainda o velho modo religioso de pensar e querer, uma espécie de nostalgia de acreditar que em qualquer parte o mundo é igual ao velho Deus, querido, infinito, criador ilimitado – que em alguma parte, todavia, o 'velho Deus ainda viva' – aquela nostalgia de Spinoza, que se exprime nas palavras 'deus sive natura' (ele sentiu mesmo 'natura sive deus' -). Qual é, pois, o princípio ou fé com o qual se formula, o mais determinadamente, a virada decisiva, a preponderância alcançada agora pelo espírito científico sobre o espírito religioso inventor de deuses? Não é ele: o mundo, como força, não pode ser pensado como ilimitado? Pois ele não pode ser pensado assim – proibimo-nos o conceito de uma força infinita como sendo inconciliável com o conceito 'força'. Portanto – falta ao mundo também a capacidade para a eterna novidade.”
Friedrich Wilhelm Nietzsche