Inomináveis Saudações a todos.
Uma poetisa genuinamente segura em seus versos do poder de lancinantemente
emocionar e nos conduzir a estados sutis de sonhos foi Ana Cristina
César, ou Ana C, simplesmente. Nascida em 1952 no Rio de Janeiro,
advinda de uma família de classe média culta e protestante, sua criação
deu-se entre Nitéroi, Copacabana e a vila Bennet do Estado De Nebraska,
Estados Unidos.
Após passar o ano de 69 em Londres, Ana retorna ao Brasil com os livros de Emily Dickinson, Sylvia Plath e Katherine
Mansfield em sua mala. Um período criativo em solo brasileiro a isso
sucedeu-se, na qual estudou Letras, lecionou e escreveu para jornais e
revistas alternativas de maneira intensa. Pela Funarte fez uma pesquisa
acerca de Literatura e Cinema, vindo a fazer também Mestrado em
Comunicação.
Ela lançou seus primeiros livros em duas edições independentes, as quais foram Carta De Abril e Correspondência Completa. Retornou à Inglaterra para formar-se em Tradução Literária, ao mesmo tempo que escrevia muitas cartas. Veio a trabalhar como jornalista em edições impressas e na televisão. E, infelizmente,
suicidou-se em 29 de outubro de 1983, lançando-se do apartamento dos pais.
Considerada um dos maiores nomes da Poesia Marginal, dizia que escrevia para "libertar-se do estigma de princesa bem-comportada",
um pensamento que se reflete diretamente em seus doloridos versos. De
um talento fluente e uma inteligência altíssima, seus versos dançam em
redor de sentidos e sentimentos abordando o direto jogo das palavras
nos turbilhões de nossas emoções mais caras. Eis a sua bibliografia
principal:
Poesia
A Teus Pés - (1982)
Inéditos e Dispersos - (1985)
Novas Seletas (póstumo, organizado por Armando Freitas Filho)
Crítica
Crítica e Tradução - (1999)
Variados
Correspondência Incompleta
Escritos no Rio (póstumo, organizado por Armando Freitas Filho)
Escritos em Londres (póstumo, organizado por Armando Freitas Filho)
Antologia 26 Poetas Hoje, de Heloísa Buarque de Hollanda
Conheçamos o trabalho poético de Ana Cristina César a partir do próximo post.
Concedam um pouco de suas atenções às imagens evocadas pelo versos,
viajem nelas, insiram-se nelas...
Um Beijo
que tivesse um blue.
Isto é
imitasse feliz a delicadeza, a sua,
assim como um tropeço
que mergulha surdamente
no reino expresso
do prazer.
Espio sem um ai
as evoluções do teu confronto
à minha sombra
desde a escolha
debruçada no menu;
um peixe grelhado
um namorado
uma água
sem gás
de decolagem:
leitor embevecido
talvez ensurdecido
"ao sucesso"
diria meu censor
"à escuta"
diria meu amor
Pedido de um beijo...
Um beijo...
Apenas um beijo blue, blue como o denso mar dos mais finos desejos satisfeitos, blue como a extensão dos libertadores beijos, blue como a exatidão das flores que realizam milagres n'alma...
O delicado sonhar continua...
O sonhar com o blue carinho do amado...
O sonhar com a blue presença do amado...
O sonhar com o blue momento a sós com o amado...
Ondas e blue, trazendo noções de sentidos mais reais...
Sentidos das coisas reais...
O sentido do blue se desfazendo...
O censor, esse inimigo do blue, tenta desfazer o mesmo!
Mas, o blue, na voz do amado, faz a poetisa retornar ao blue momento...
olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas
Olhar o corpo de um poema é tratar de acariciar um filho que prontamente toma vida...
Uma vida pulsante nas horizontalidades da expressividade poética, vida reta, vida em conexão com a atitude da veia poética.
Tudo pulsa no gerar do filho...
Tudo é o filho...
Tudo no filho...
Chora o filho, o corpo está pronto, a alimentação agora é necessária!
Mas, perdido o corpo!
Perdido Perdido Perdido?
O que isso significa? Desparecimento? Morte? Inação? Extinção?
Negativo, nada disso; significa que para poetizar o Eu Poético necessita esquecer da condição formal das palavras, precisa fazê-las desparecer na consecução do Poético Ato, informando a si mesmo que os versos são construtos de hábil transcendentalidade, transcendentalidade de seus próprios Eus, transcendentalidade de seus próprios tratamentos informais.
A transcendentalidade, então, é como uma mordida no Ato De Poetizar.
A gengiva sangra...
Os dentes mastigam mais...
Vai, verso...
Vai, verso...
VAI, VERSO!!!
Eis, então, o poema.
que tivesse um blue.
Isto é
imitasse feliz a delicadeza, a sua,
assim como um tropeço
que mergulha surdamente
no reino expresso
do prazer.
Espio sem um ai
as evoluções do teu confronto
à minha sombra
desde a escolha
debruçada no menu;
um peixe grelhado
um namorado
uma água
sem gás
de decolagem:
leitor embevecido
talvez ensurdecido
"ao sucesso"
diria meu censor
"à escuta"
diria meu amor
Pedido de um beijo...
Um beijo...
Apenas um beijo blue, blue como o denso mar dos mais finos desejos satisfeitos, blue como a extensão dos libertadores beijos, blue como a exatidão das flores que realizam milagres n'alma...
O delicado sonhar continua...
O sonhar com o blue carinho do amado...
O sonhar com a blue presença do amado...
O sonhar com o blue momento a sós com o amado...
Ondas e blue, trazendo noções de sentidos mais reais...
Sentidos das coisas reais...
O sentido do blue se desfazendo...
O censor, esse inimigo do blue, tenta desfazer o mesmo!
Mas, o blue, na voz do amado, faz a poetisa retornar ao blue momento...
olho muito tempo o corpo de um poema
até perder de vista o que não seja corpo
e sentir separado dentre os dentes
um filete de sangue
nas gengivas
Olhar o corpo de um poema é tratar de acariciar um filho que prontamente toma vida...
Uma vida pulsante nas horizontalidades da expressividade poética, vida reta, vida em conexão com a atitude da veia poética.
Tudo pulsa no gerar do filho...
Tudo é o filho...
Tudo no filho...
Chora o filho, o corpo está pronto, a alimentação agora é necessária!
Mas, perdido o corpo!
Perdido Perdido Perdido?
O que isso significa? Desparecimento? Morte? Inação? Extinção?
Negativo, nada disso; significa que para poetizar o Eu Poético necessita esquecer da condição formal das palavras, precisa fazê-las desparecer na consecução do Poético Ato, informando a si mesmo que os versos são construtos de hábil transcendentalidade, transcendentalidade de seus próprios Eus, transcendentalidade de seus próprios tratamentos informais.
A transcendentalidade, então, é como uma mordida no Ato De Poetizar.
A gengiva sangra...
Os dentes mastigam mais...
Vai, verso...
Vai, verso...
VAI, VERSO!!!
Eis, então, o poema.