Auto-Retrato - s/d
Inomináveis Saudações a todos.
Este é o tipo de tópico que estava faltando a este fórum como um todo, um tópico que por puro esquecimento meu antes não pôde aqui ser criado. Como pude esquecer da fenomenal Arte de Hieronymus Bosch, uma das Grandes Maravilhas Da Terra? Como pude esquecer das Delícias de tal obra, enigmática, absorvente de nossa consciência, sulfurosamente construtora de uma interna ciência, suficientemente capaz de em nós conceber uma idéia universal de terror, horror, pequenez e tudo o mais que nos limita enquanto humanos que somos aqui neste mundo? Tudo, isso tudo, se expressa através do surreal e magnífico pincel de Bosch, exercendo um domínio de nossos Eus, Eus absorvidos pelas mensagens ocultas e reveladas aos nossos mortais olhos de observadores, estudiosos ou simples amantes da Arte.
Fenomenal Arte De Hieronymus Bosch! Sim, no todo de sua conceituação formal, no todo de sua complexidade psicológica, no todo de sua densidade construtiva de formas diferenciadas de interpretações da Realidade, a Arte que ele desenvolveu e que eternamente será uma das mais grandiosas da Terra é determinada por tal concepção. Elementarmente, como navegantes de um mar de delírios que se conectam uns aos outros, percorremos seus quadros, interpelamos seus quadros, recorremos aos recursos todos dispostos em nossa consciência da essencialidade de tais quadros, instruimos nosso estético saber no íntimo do que vem a nos dizer cada espaço deles.
As Delícias Da Obra De Hieronymus Bosch! Delícias das mensagens maiores; Delícias das mensagens maiores; Delícias das cores que notificam-nos dos sonhos desenvolvidos com plenitude arcana; Delícias das paisagens acometidas de grandiosidades estruturais formidáveis; Delícias de leituras das verbais significações dos espaços tratados na corrente de formações e informações das imagens; Delícias de purificadas noções da universalidade; Delícias de potencializadas diversidades das ligações de cada mensagem e de cada imagem com o que se esconde de tesouro nas originalidades intrínsecas no Poder Artístico empregado em cada quadro.
O Surrealismo deve tudo a Hieronymus Bosch.
Salvador Dali não existiria sem a obra de Hieronymus Bosch.
Jim Warren não existiria sem a obra de Hieronymus Bosch.
Vladimir Kush não existiria sem a obra de Hieronymus Bosch.
Mais próximo de nós, com uma obra toda de referências ao Surreal Movimento Das Imagens, Saturno Buttó não existiria sem a obra de Hieronymus Bosch.
Hieronymus Bosch é o pai de todos os surrealistas, sem nenhuma contestação.
Hieronymus Bosch é o pai de todo o Surreal na Arte.
Hieronymus Bosch é o próprio Princípio Surreal Da Arte.
O Poder Dos Sonhos Humanos está presente nos quadros de Hieronymus Bosch.
O Poder Dos Pesadelos Humanos está presente nos quadros de Hieronymus Bosch.
O Poder Das Desgraças Humanas está presente nos quadros de Hieronymus Bosch.
O Poder Das Misérias Humanas está presente nos quadros de Hieronymus Bosch.
O Poder Das Maldições Humanas está presente nos quadros de Hieronymus Bosch.
Ultrapassando a religiosidade cristã, o alcance de um paganismo todo particular.
Ultrapassando a religiosidade cristã, o alcance de um misticismo todo particular.
Ultrapassando as determinações estéticas em voga na época de seu caminhar na Terra, o alcance de uma unicidade, o alcance de uma inimitável condição de Grande Mestre Da Pintura!
Biografia
O percurso humano de Hieronymus Bosch constitui um enigma a mais. As escassas informações disponíveis - tiradas de documentos da época - mal permitem configurar seguramente os elementos essenciais de uma biografia. Terá nascido, por volta de 1540, em 's Hertengenbosch, aldeola esquecida na região do Brabante belga, também chamada Bois-le-Duc. Presume-se que o artista tenha retirado da última sílaba do nome do lugarejo o pseudônimo com que assinou alguns dos seus trabalhos. O sobrenome original era van Anken, de uma família já antiga na terra. Seu pai, Antônio, era pintor, bem como o avô e dois tios paternos.
Em 1478 - segundo sempre os mencionados documentos - casa-se com Aleid van de Meervenne, orfã, devota e rica. Ela lhe traz como dote uma pequena propriedade situada a cerca de 30 quilômetros da aldeia, para onde o pintor freqüentemente se retiraria a fim de trabalhar e meditar meses seguidos. Induzido talvez pela mulher, ele ingressará em 1486 numa confraria religiosa de leigos - a Ilustre Confraria de Nossa Senhora -, cujos membros tonsuravam a cabeça e vestiam batina. Dois anos mais tarde, "Jheronimus Anthoniossen van Aken", filho de Antônio, originário de Aken - prestou juramento como notável da ordem, tomou parte no banquete do cisne, com que se comemorava anualmente o aniversário de sua fundação, e recebeu os confrades para uma refeição em sua casa e na praça do mercado.
Como membro da confraria, Bosch participa de suas atividades: reunião para preces em comum, distribuição de pão aos pobres, celebração de funerais, ornamentação de retábulos, colaboração nas roupagens e máscaras dos Mistérios - representações teatrais que incluíam ballets demoníacos, onde espectros e esqueletos eram personagens principais. A encenação dos Mistérios era o deleite - a nossos olhos mórbido - da provinciana população das aldeias. Exprimia sua obsessão com a morte e com o inevitável advento do Fim do Mundo.
Entre 1480 e 1481, Bosch é mencionado pela entrega de um retábulo que seu pai deixara inacabado. Outros papéis atestam a sua generosidade em contribuições em dinheiro, sua encomenda de vidros especiais para vitrais que esboçara - em 1493/94, na capela da confraria de São João -, registram esquemas para uma Crucifixão desenho de brasões, etc. Dessas obras menores não restam sequer vestígios: assim como quadros seus de temas bíblicos - citados por contemporâneos -, foram todos destruídos por zelosos protestantes no terrível ano de 1629. Escpou, dessa safra, uma grande obra, A Epifania, levada muito antes para a Espanha pelo Rei Filipe II.
Sem pompa, mas assinalado como insignis pictor, Bosch vem a morrer em 1516, provavelmente aos 65 anos de idade. E nada mais se sabe de sua história. Permanece unicamente como possível chave para a compreensão do homem Hieronymus Bosch a sua esplêndida criação - sem dúvida a mais original que o Ocidente pôde conhecer em milênios de invenção artística documentada.
in: Gênios Da Pintura, vol. II, Abril Cultural.
Duas Cabeças De Homens - s/d