Henrique VIII
O badocha casadoiro e mauzão!
Assassina metade de Inglaterra, duas esposas, e o próprio melhor amigo.
Henrique VIII de Inglaterra (nascido: Henry Tudor; 28 de junho de 1491 — 28 de janeiro de 1547) foi rei de Inglaterra a partir de 21 de abril de 1509 (coroado a 24 de junho de 1509) até à sua morte. Foi-lhe concedido o título de rei da Irlanda pelo Parlamento Irlandês em 1541, tendo obtido anteriormente o título de Lorde da Irlanda. Foi o segundo monarca da dinastia Tudor, sucedendo a seu pai, Henrique VII, e pretendente ao trono francês.
Nascido em Greenwich, no palácio de Placentia, Henrique VIII foi o sexto filho de Henrique VII e Isabel de Iorque. O seu pai, membro da Casa de Lancaster, adquiriu o trono por direito de conquista, já que o seu exército derrotou o último Plantageneta, o rei Ricardo III, e posteriormente completou os seus direitos casando-se com Isabel, filha do rei Eduardo IV.
Somente três de seus seis irmãos sobreviveram à infância: Artur, Príncipe de Gales, Margarida Tudor, rainha consorte da Escócia, e Maria Tudor, rainha consorte da França. Em 1493, com dois anos, Henrique foi nomeado Condestável de Castelo de Dover e Lorde Guardião do Cinque Ports. Em 1494, ele foi criado Duque de York. Posteriormente, foi nomeado Conde Marechal de Inglaterra e Lorde Tenente da Irlanda. A Henrique foi-lhe dada uma educação de primeira classe com professores de renome, tornando-se fluente em latim, francês e espanhol. Como era de se esperar que o trono passaria para o príncipe Artur, o seu irmão mais velho, Henrique estava preparado para uma vida na Igreja.
Em 1501 assistiu ao casamento de seu irmão mais velho, Artur, com Catarina de Aragão. O casal tinha quinze e dezasseis anos, respectivamente, na época. Os dois foram enviados por um tempo a Gales, como costumavam fazer com o herdeiro do trono e sua esposa. Em 1502, Artur, com quinze anos, faleceu com tuberculose. Em consequência disto, aos onze anos de idade, Henrique, Duque de York herdou o direito ao trono inglês, e como tal, pouco depois foi nomeado príncipe de Gales.
Primeiro casamento
As negociações sobre o direito de viuvez de Catarina se arrastaram por um ano. O rei não lhe cedia o direito previsto no contrato, um terço da renda de Gales, Cornualha e Chester, porque não havia recebido a segunda parte do dote de Catarina, e os pais de Catarina não a deixavam voltar para a Espanha sem o direito garantido. Desta forma, Catarina manteve-se hostilizada pela corte em um país estrangeiro, sem bens e com uma pequena remuneração. Determinada a ser rainha da Inglaterra, Catarina aceitou o pedido de casamento do rei, que acabara de ficar viúvo. Para que não houvesse dúvida quanto à legitimidade do casamento, o rei requereu uma dispensa papal, baseada na não consumação do casamento dela com seu primogénito. Ao tomar ciência que seus herdeiros não teriam preferência sobre Henrique na coroa de Inglaterra, e com o apoio de seus pais, Catarina recusou o pedido do rei, o que lhe deixou enfurecido. O embaixador espanhol comunicou ao rei que os reis espanhóis exigiam o noivado de Catarina e o príncipe de Gales. O rei cedeu, sem intenção de honrar o compromisso firmado por uma criança de doze anos.
Para que o novo Príncipe de Gales se casasse com a viúva do seu irmão, uma dispensa papal era normalmente necessária para anular o impedimento de afinidade porque, como disse no livro de Levítico: "Se um irmão casar com a mulher do irmão, eles não terão filhos". Catarina jurou que o seu casamento com o príncipe Artur não tinha sido consumado. Ainda assim, ambas as partes inglesa e espanhola decidiram que uma dispensa papal adicional de afinidade seria prudente para eliminar qualquer dúvida sobre a legitimidade do casamento.
A impaciência da mãe de Catarina, a rainha Isabel I de Espanha, induziu o Papa Júlio II para conceder isenções sob a forma de uma bula papal. Assim, 14 meses após a morte do seu jovem marido, Catarina viu-se noiva do seu irmão ainda mais novo, Henrique.
Em 1505, Henrique VII perdeu seu interesse em manter a aliança com a Espanha, e o jovem príncipe de Gales foi obrigado a declarar que o compromisso havia sido arranjado sem seu consentimento. Porém, as negociações diplomáticas a respeito do casamento continuaram até a morte de Henrique VII em 1509. Em seu leito de morte, o rei disse ao seu filho que ele estava livre para se casar com quem quisesse. Encantado com Catarina desde a infância e certo que a segurança da Inglaterra dependia de um aliança tríplice entre Espanha, Inglaterra e o Imperador, no dia 11 de junho de 1509, com apenas dezassete anos, Henrique, casou-se com a viúva de seu irmão, Catarina de Aragão, com 23 anos. No dia 24 de junho do mesmo ano, ambos foram coroados respectivamente rei e rainha da Inglaterra na Abadia de Westminster. A primeira gravidez da rainha Catarina terminou em aborto em 1510. Logo deu à luz um bebê do sexo masculino, chamado Henrique, em 11 de janeiro de 1511, mas o bebé só viveu até 22 de fevereiro do mesmo ano.
Henrique foi um homem da Renascença e a sua corte foi um centro de inovação académica e artística e excesso de glamour, consubstanciada no Campo do Pano de Ouro. Ele era músico, escritor e poeta. A sua melhor composição musical é conhecida como Pastime with Good Company ou The Kynges Ballade. Ele também foi um jogador ávido e jogador de dados, e destacou-se no desporto, principalmente na justa, na caça e no ténis real. Ele também era conhecido pela sua forte dedicação ao cristianismo.
A rainha Catarina ficou grávida pelo menos sete vezes (a última vez em 1518), mas só uma das crianças, a princesa Maria, sobreviveu à infância. Henrique tinha ficado com várias amantes, incluindo Maria Bolena e Isabel Blount, com quem tinha tido um filho ilegítimo, Henry Fitzroy, primeiro duque de Richmond e Somerset. Em 1526, quando ficou claro que a rainha Catarina não poderia ter mais filhos, Henrique começou a perseguir a irmã de Maria Bolena, Ana Bolena.
Ainda que não haja dúvidas de que a motivação principal de Henrique para se divorciar de Catarina fosse o seu desejo de ter um herdeiro homem, o rei ficou empolgado com Ana, apesar da sua inexperiência infantil e do seu pouco poder de atração. Ana, ao início, resistiu às suas tentativas de seduzi-la, e recusou-se a tornar-se sua amante como a sua irmã Maria. Ela disse: "Rogo a Sua Alteza mais fervorosamente a desistir, e para isso a minha resposta em boa parte. Eu preferiria perder a minha vida do que a minha honestidade". Esta recusa fez com que Henrique ainda ficasse mais atraído, e ele perseguiu-a implacavelmente. Eventualmente, Ana viu a sua oportunidade na paixão de Henrique e determinou que ela só iria render-se a ele se a reconhecesse como rainha.Logo tornou-se num desejo absorvente do Rei para anular o seu casamento com Catarina.
Segundo casamento
Henrique participou num encontro com o rei francês em Calais, no inverno de 1532, no qual ele contou com o apoio de Francisco I da França para o seu novo casamento.Imediatamente após retornar a Dover, na Inglaterra, Henrique e Ana fizeram um casamento em segredo.Ela logo ficou grávida e houve então um segundo casamento, que teve lugar em Londres, em 25 de janeiro de 1533. Os eventos começaram a desenrolar-se rapidamente. Em 23 de maio de 1533, Cranmer, convocou uma sessão especial da corte no Priorado de Dunstable para se pronunciar sobre a validade do casamento do rei com Catarina de Aragão, declarou o casamento de Henrique e Catarina nulo e sem efeito. Cinco dias depois, no dia 28 de maio de 1533, Cranmer declarou o casamento de Henrique e Ana como bom e válido.
Catarina foi formalmente despojada do seu título de rainha, e Ana foi coroada consequentemente rainha consorte em 1 de junho de 1533. A Princesa Maria (futura rainha Maria I de Inglaterra) foi rebaixada a filha ilegítima, e substituída como provável herdeira pela nova filha de Ana, Isabel (a futura rainha Isabel I de Inglaterra), nascida prematuramente em 7 de setembro desse ano, recebendo esse nome em honra da mãe de Henrique. Tendo perdido o título de rainha, Catarina recebeu o título de Princesa viúva de Gales; Maria deixou de ser "Princesa de Gales", para passar a ser uma simples "Lady". Catarina de Aragão morreu de em 1536 de causas ainda não muito claras (há quem diga que ela padecia de cancro ou que foi envenenada).
Esta atitude de afronta sem precedentes à Igreja Católica valeu-lhe a excomunhão, declarada por Clemente VII em 11 de julho de 1533. No seguimento da excomunhão, Henrique decidiu o rompimento com a Igreja Católica Romana, declarou a dissolução dos monastérios, tomando assim muitos dos haveres da Igreja, e formou a Igreja Anglicana (Church of England), da qual se declarou líder. Esta decisão tornou-se oficial com o decreto de supremacia (Act of Supremacy) de 1534. A recusa em jurar obediência a este decreto levou-o a condenar o humanista Thomas More, seu antigo Lord Chanceler, à morte.
Em 1536, a rainha Ana Bolena começou a perder o favor de Henrique. Depois do nascimento da princesa Isabel, Ana teve duas gestações que terminaram em aborto ou morte da criança. Enquanto isso, Henrique começava a prestar atenção em outra cortesã, Joana Seymour. Talvez animado por Thomas Cromwell, Henrique fez que Ana fosse presa sob a acusação de bruxaria (para convertê-lo em seu marido), de ter relações adúlteras com cinco homens, de incesto (com seu irmão Jorge Bolena, o Visconde de Rochford), de injuriar o Rei e conspirar para assassiná-lo, com o agravante de traição. As acusações eram inteiramente fabricadas por Thomas Cromwell, secretário particular de Henrique VIII. A Corte que tratou do caso foi presidida pelo próprio tio de Ana, Thomas Howard, Duque de Norfolk. Em maio de 1536, Ana e seu irmão foram condenados à morte, entre a fogueira ou a decapitação, o rei escolheu que Ana fosse decapitada. Foi contratado um executor francês para executar a sentença, por ser conhecido por realizar o seu trabalho de forma a que a vítima não sentisse nenhuma dor.
Um dia depois da execução de Ana em 1536, Henrique ficou noivo de Joana Seymour, uma das damas de companhia da rainha, a quem o rei tinha mostrado favor desde algum tempo. O casamento ocorreu 10 dias depois.
Em 1536, foi aprovada a Segunda Lei de Sucessão, que declarou os filhos de Henrique com a rainha Joana seriam os próximos na linha de sucessão ao trono e declarou tanto Lady Maria e Lady Isabel como ilegítimas, excluindo-as da linha de sucessão. Ao rei foi concedido poder político para determinar a linha de sucessão à sua vontade.
Em 1537, Joana deu à luz um filho, o Príncipe Eduardo, e futuro Eduardo VI. O parto foi difícil e a rainha morreu no Palácio de Hampton Court, em 24 de outubro de 1537, poucos dias depois de ter dado à luz, devido a uma infeção. Após a morte de Joana, a corte inteira guardou luto com Henrique por um período prolongado. Henrique considerou Joana como sendo a sua "verdadeira" esposa, por ter sido a única que lhe deu o herdeiro varão que tão desesperadamente desejava.
Henrique desejou casar-se novamente. Thomas Cromwell, agora Conde de Essex, sugeriu o nome de Ana de Cleves, irmã do Duque de Cleves, que tinha sido um importante aliado no caso do ataque da Igreja Católica à Inglaterra. O pintor Hans Holbein foi mandado ao Ducado de Cleves para fazer um retrato de Ana para o Rei. Depois de ver o retrato de Ana e receber descrições complementares a respeito da mesma, Henrique decidiu se casar com Ana. Quando Ana chegou a Inglaterra, Henrique achou-a pouco atraente, porém se casou com ela em 6 de janeiro de 1540.
Henrique decidiu terminar o casamento, não somente por causa de seus sentimentos mas também por considerações políticas. O Duque de Cleves tinha entrado numa disputa com o Sacro Império Romano, com o qual Henrique não queria entrar em disputa. A nova rainha, Ana, foi inteligente o bastante para não deixar Henrique pedir a anulação do casamento e alegou que o mesmo não havia sido consumado. O casamento portanto foi anulado e Ana recebeu o título de "Irmã do Rei".
Em 28 de julho de 1540, Henrique casou-se com a jovem Catarina Howard, prima de Ana Bolena. Ele estava encantado com a nova rainha. Logo após o casamento, entretanto, Catarina teve um caso com o cortesão Thomas Culpeper. Ela também empregou como seu secretário, Francis Dereham, com quem tinha tido um caso antes de se casar com Henrique VIII. Thomas Cranmer apresentou evidências das atividades extra-conjugais da rainha, a Henrique e, embora este não tivesse acreditado, mandou Cranmer conduzir investigações que acabaram resultando na implicação de Catarina. Quando interrogada, a Rainha admitiu o caso com Dereham mas alegou que foi forçada por ele a ter esta relação extra-conjugal, porém Dereham delatou o relacionamento de Catarina com Thomas Culpeper. O casamento com Catarina foi anulado rapidamente após sua execução. Como no caso de Ana Bolena, Catarina Howard pode ter sido vítima de uma acusação falsa de adultério, porém nada conseguiu ser provado.
Henrique casou-se com sua última mulher em 12 de julho de 1543, a rica viúva Catarina Parr. Ela e Henrique tiveram um casamento cheio de discussões sobre religião, ela era radical e Henrique conservador. Embora isso desagradasse ao Rei, ela sempre se salvou mostrando-se submissa. Ela ajudou a reconciliação de Henrique com suas duas filhas, Lady Maria e Lady Isabel. Em 1544, uma lei do Parlamento colocou-as de volta na linha de sucessão ao trono inglês após o príncipe Eduardo, embora elas continuassem ilegítimas.
A tirania de Henrique tornou-se mais aparente com o avanço da idade e a queda de sua saúde. Uma onda de execuções políticas, que começaram com Edmund de la Pole (o Duque de Suffolk) em 1513 e terminaram com Henrique (Conde de Surrey) em janeiro de 1547.
Nos últimos anos da sua vida, Henrique tornou-se grosseiramente obeso (com uma medida de cintura de 137 centímetros) e teve que ser transferido com a colaboração das invenções mecânicas. Ele tinha muitas dores, suportando furúnculos e possivelmente sofria de gota. A sua obesidade data de um acidente de justa em 1536 em que ele sofreu um ferimento na perna. Isso impediu-o de praticar desporto e tornou-se gradualmente ulcerada. E, sem dúvida, acelerou a sua morte, aos 55 anos de idade, ocorrida em 28 de janeiro de 1547, no Palácio de Whitehall, o que teria sido o 90.º aniversário do seu pai. Ele morreu após alegadamente proferir estas últimas palavras: "Monges! Monges! Monges!"
A teoria de que Henrique sofreu de sífilis foi promovida, cerca de 100 anos após a sua morte, mas foi ignorada pela maioria dos historiadores sérios. A sífilis é uma doença bem conhecida no tempo de Henrique, e apesar do seu contemporâneo, Francisco I da França tê-la tido, as notas deixadas pelos médicos de Henrique não indicam que o rei tinha essa doença. Uma teoria mais recente e credível sugere que os sintomas médicos de Henrique, e os de sua irmã mais velha Margarida Tudor, também são característicos da diabetes tipo II.
Henrique VIII foi sepultado na Capela de São Jorge, no Castelo de Windsor, ao lado da sua terceira esposa, Joana Seymour. Mais de cem anos mais tarde, Carlos I foi sepultado no mesmo jazigo.
Mas ele anada por aí...
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E a Ana Bolena e a Catarina Howard andam-lhe a fazer companhia.